A mulher é fundamental no Figurado de Estremoz. Primeiro porque as primeiras interpretes foram mulheres, que resistindo a uma época que não reconhecia o seu trabalho enquanto ofício, teimaram em não deixar cair a arte. De tal modo lutaram, que chegaram mesmo a interpelar a Câmara Municipal de Estremoz a 10 de Outubro de 1770, em virtude de uma decisão de D. José I que as queria proibir de excercer um ofício para a qual não tinha sido previamente sujeitas e exame, segundo tinham requerido os Oleiros de Estremoz. Indo à reunião de Câmara, unidas, conseguiram que não se fosse por diante tal intento, mantendo assim o trabalho que era o seu ganha pão. Além do mais, devemos também a mulheres como as da família Estopa, Marques (ou Fachas), Ana das Peles, Sabina Santos, Liberdade da Conceição, Maria Luísa da Conceição, Perpétua e Inácia Fonseca, Fátima Estroia e Quirina Marmelo o facto de mantermos elevados padrões de qualidade na barrística e deste artesanato ser internacionalmente reconhecido. Sem estas, hoje, esta tradição seria somente uma memória. Outras ainda, como Isabel Pires ou Célia Freitas, apesar de seguirem opções de modelação diferentes das tradicionais, são também artesãs que tem contribuido bastante para a afirmação de Estremoz no Figurado. Em segundo lugar, a mulher é também fundamental enquanto fonte de inspiração no Figurado. Na imaginária temos a Mãe de Deus, Maria, nas suas mais diversas invocações, no “Presépio” e na “Fuga para o Egito”. No mundo rural as mulheres dominam a imaginação dos barristas. Temos, entre dezenas de diferentes figuras, a “Mulher a fazer Chouriços”, a “Mulher dos Perús”, a “Mulher a Fiar”, a “Ceifeira”, a “Mondadeira”, a “Coqueira”, e até a mulher envolvida na cena da “Matança do Porco”! Por sua vez, no mundo urbano observam-se a “Mulher a assar Castanhas”, a “Amazona”, a “Dama no Toucador”, a “Dama a servir Chá”, “Dama lendo a Carta”, a “Mulher a lavar o menino”, “Dama”, entre muitas outras representações. As peças de carnaval têm figurado no feminino representado nas “Primaveras”, na “Bailadeira” e nas diversas Negras. A proporção de peças, em termos de origem sexual, em Estremoz, apesar de pender favoravelmente para a modelação de homens, a representação feminina está quase a par, facto que, creio, único em termos do artesanato nacional.
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